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Começar Tudo de Novo (de novo)

  • Foto do escritor: Mari Proença
    Mari Proença
  • 10 de dez. de 2020
  • 6 min de leitura

Atualizado: 11 de dez. de 2020

Talvez devido a um surto de TPM, ou por mudanças da lua, acordei um dia desses, pensando em quantas vezes tive que recomeçar algo que deu errado. E pensando nisso entrei numa crise existencial.


Photo by Denys Nevozhai on Unsplash

Muitas vezes comecei algo que pensei "agora vai", mas não foi. E eu precisei mudar tudo e começar de novo. Ainda estou nesse loop de recomeços e estou bem cansada disso.


Eu sempre soube o que eu queria da vida, nunca tive dúvidas tipo "Será que eu caso ou compro uma bicicleta?" --- até porque casar, nunca esteve nos meus planos --- Eu sou uma pessoa determinada desde nova, eu sempre quis aprender outras línguas, viajar, conhecer pessoas diferentes e de alguma maneira deixar a minha marca no mundo. Por isso, sempre estabeleci metas, planejei e fui atrás do que eu queria. Muitas dessas metas foram cumpridas, como, fazer faculdade, falar inglês fluente, fazer intercâmbio, viajar pelo mundo entre outras metas que nem eu mesma reconheço que alcancei. Mas porque ainda não me sinto realizada, sinto que ainda não "venci na vida"?


Depois de ter morado fora e voltado para o Brasil, não consegui mais me readaptar. A minha intenção quando eu fui morar nos EUA pela primeira vez, nunca foi ficar na América para sempre, mas sim, melhorar meu inglês e ter uma experiência de vida, para daí voltar ao Brasil e trabalhar na minha área --- porque achei que o significado de "bem sucedida" era ter um emprego "top".


Quando eu voltei para São Paulo, até consegui um emprego "top", pagava bem, até subi de cargo, cresci na empresa, mas mesmo assim não me senti como eu achei que me sentiria: realizada, feliz e completa. Muito pelo contrário, naquele emprego, me sentia estressada, sugada e irritada. Senti que havia algo faltando e que precisava voltar para a estrada e começar tudo de novo. E lá vai eu me aventurar novamente.


Entrei em um avião e depois de 36 horas cheguei na Austrália para fazer um curso de marketing, tentar trabalhar em algo nessa área porque eu estava cansada da área de educação, e quem sabe, conseguir um visto permanente e ficar por lá mesmo.


Só que no meio do caminho, um boy me conquistou e me fez mudar a rota, terminei o curso de marketing na Austrália e voltei para os EUA atrás dele. Acreditei que tudo que eu havia vivido até ali foram ótimas experiências, mas eu estava pronta para começar tudo de novo com um boy magia ao lado --- foi o que eu pensei antes de descobrir que de magia ele não tinha nada.


Casei com o embuste --- quer dizer --- boy magia, e por causa do emprego dele, fui parar em uma cidade que não tinha muitas oportunidades boas de emprego, foi bem difícil e chegou uma época que eu estava trabalhando em 4 empregos de uma vez. Eu tinha um projeto de negócio próprio com a minha prima, e o meu objetivo era juntar dinheiro para investir nesse projeto.


E nesse meio tempo veio a vida e me deu uma rasteira....


Meu casamento sempre foi uma bosta desde o início, mas eu fiquei por um tempo achando que as coisas melhorariam, mas quando percebi que não tinha jeito mesmo, lá vai eu pegar minhas malas e me mudar pra outra cidade, começar tudo de novo.


Photo by Diego Jimenez on Unsplash

Bom, agora que eu já te dei um resumo sobre as estradas que percorri, vou te contar porque acordei um dia desses cansada e em crise existencial.


Ultimamente tenho me sentido frustrada com a precariedade dos trabalhos que faço aqui nos EUA. Como vcs sabem, sou babá, faço entregas com apps de comida, bicos de faxina, aulas de inglês.


Esse ano foi bem complicado no âmbito profissional para muita gente, eu fui bem prejudicada financeiramente pela pandemia. Lá em Março, quando tudo começou, eu perdi meus alunos, perdi a família que eu trabalhava, perdi alguns clientes de faxina que eram idosos. Aos poucos fui me reerguendo e comecei a fazer mais entregas com apps de comida, me mudei para uma cidade onde a faixa salarial é maior, arrumei outro emprego de babá e a minha situação melhorou.


Mas desde então, tudo isso começou a me dar no saco --- ou melhor --- no útero.


Estou cansada de lidar com filhos dos outros, de dirigir até 9 ou 10 horas da noite e chegar em casa morta e com dor nas pernas, sem ânimo para fazer nada. Estou farta de empregos como esses que a gente não tem garantia de nada, não sou paga pelos feriados, tenho apenas uma semana paga de férias por ano, se eu ficar doente e precisar me afastar, simplesmente eu não recebo, não tenho benefícios como seguro saúde, aposentadoria, afastamento médico, se o meu carro quebra e eu não posso mais fazer entregas, problema meu, eu não recebo, se a família virar pra mim e disser "Mari, semana que vem não precisaremos de vc porque sairemos de férias", problema meu também, porque eu não recebo, ou seja, absolutamente zero direitos trabalhistas.


Antes de aceitar esses empregos precários, eu poderia ter pesquisado mais, procurado um emprego melhor, mas eu estava com pressa , queria me mudar da cidade que o embuste morava o mais rápido possível, e isso foi bem quando estourou a pandemia, então encontrar emprego estava difícil, por isso aceitei o primeiro emprego de babá que me pareceu um pouco descente para recomeçar mais uma vez.


Não que seja um emprego ruim, ele paga meu aluguel --- que é bem caro diga-se de passagem ---paga minhas contas, meus passeios, minhas comprinhas e ainda junto dinheiro. Mas hoje (depois de meses) eu percebo que pra mim, não dá mais, eu quero ir mais longe, eu quero crescer, quero aparecer, quero fazer dinheiro de verdade, não só o necessário, quero fazer a diferença e deixar a minha marca no mundo --- isso sinto que ainda não alcancei.


Tô tão cansada que fiquei puta da vida até com algo que eu gosto de fazer, que é produzir conteúdos, me cansei de fazer tantos vídeos, fotos, escrever textos, postar tudo e não alcançar o público que eu quero por conta dos algoritmos injustos das redes sociais.


Não se sentir realizada é dor, é frustração, é expectativa não alcançada. Percorrer tantas estradas, e chegar no fim dessas estradas e perceber que não era exatamente o que eu estava procurando, foi bastaste frustrante. É uma sensação de "quando vou colher o que eu plantei?"


Então conversando sobre isso com uma amiga cheguei a uma conclusão: e eu vou fazer o que? Me conformar? Não, essa não é uma opção. Desistir? Muito menos.


EU SEI O QUE QUERO, E NÃO QUERO ISSO.


A minha amiga, me fez perceber que eu só consegui recomeçar porque eu tenho capacidade para isso.


Pelo menos eu consegui identificar que algo não estava satisfatório, dar a volta por cima, sair de uma situação ruim e recomeçar. E isso requer muito alto conhecimento e força, eu sempre soube o que era melhor para mim, porque quando vc não sabe, qualquer coisa tá bom, o que vier é lucro, vc se contenta com pouco. Eu sei meus limites e quando falar basta.


Ela me fez perceber também que nessa depressão coletiva que estamos passando esse ano, o meu maior impacto nem foi esse vírus, eu já estava em uma situação ruim, quando o vírus chegou, que era meu casamento de bosta, por isso, eu já estava forte e apta para enfrentar uma crise de pandemia, e cada vez que eu sigo uma estrada mas chega no fim e eu tenho que recalcular a rota, eu fico mais e mais forte para continuar seguindo.


Não é fácil, como mencionei acima, é frustrante e doloroso não ter uma expectativa alcançada, mas eu só me sinto assim porque eu cheguei lá. Eu corri atrás, eu realizei sonhos, eu alcancei o que eu queria, nem tudo foi exatamente como eu esperava, mas pelo menos, eu cheguei em algum lugar, e isso já é uma grande vitória.


Nunca tive medo, nunca me preocupei com idade, minha irmã e minha mãe sempre acharam que eu perco muito tempo na vida, querendo me "aventurar", aquele discurso "e a aposentadoria?" "e a casa própria?", mas eu nunca me importei com isso e segui os caminhos que eu quis.


No final das contas, jogar tudo pro alto e recomeçar é uma ânsia que eu tenho de querer sempre algo melhor pra mim mesma e isso nada mais é que um ato revolucionário, corajoso e inspirador. Por isso continuarei seguindo e recomeçando sempre que precisar, sei que não estou no caminho errado, na verdade... nunca estive.


Aliás, eu falei as palavras começar, recomeço, recomeçar ou começar de novo mais de dez vezes nesse texto e não há nada de errado nisso.


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