Carta aberta ao meu ex
- Mari Proença
- 5 de ago. de 2021
- 5 min de leitura

Essa carta é destinada a vc, mas não tenho pretensão de te causar nenhuma emoção (sinceramente, eu espero que vc nem leia). Não quero inflar seu ego, não quero te provocar, não quero te fazer pensar sobre nós, porque “nós” morreu, alias “nós” nunca existiu. Com essa carta, eu só quero me expressar e dizer ao mundo que eu sobrevivi. Essa carta não é sobre vc, é sobre mim, essa é a minha história.
Te conheci em um momento frágil da minha vida. Em um momento em que eu ainda acreditava em amor perfeito criado pelos filmes da Disney, em um momento que eu acreditei que os príncipes existiam e que eu precisava ser resgatada por um deles.
Fui influenciada pela estrutura patriarcal da nossa sociedade e sonhava em encontrar um príncipe loiro dos olhos azuis de corpo malhado, eu até poderia ser uma mulher independente mas eu acreditava que nada faria sentido se eu não tivesse alguém como vc ao meu lado.
Quando te conheci eu ignorei todos os sinais que vc me deu. Desde o início sutilmente vc já me manipulava, mentia, fingia ser quem vc não é, e eu ficava confusa, eu não podia acreditar que um príncipe poderia ser um homem mal. Príncipes deveriam ser caras legais, por isso, eu ignorei os sinais e segui em frente.
Eu caí direitinho na sua armadilha. Vc fingiu que me amou, fingiu que se importava comigo, fingiu que queria meu bem, fingiu que torcia por mim, fingiu que seria meu companheiro de vida. Mas um dia vc cansou de fingir e foi aos poucos me mostrando quem vc realmente era, foi me mostrando que de príncipe, vc não tinha nada.
Eu demorei 3 anos para perceber que vc nunca me amou, que vc só queria me usar como uma marionete, que queria que eu fosse a sua esposa troféu, mostrar pros outros a esposa exótica latina/brasileira que vc havia conquistado. Vc só queria sugar meu brilho.
Eu fiquei 3 anos nesse looping vicioso que era estar com vc, como uma droga eu necessitava que vc fizesse parte da minha vida, eu não conseguia te falar “não”. Vc nada mais era do que uma droga, a mais tóxica que eu teria a infelicidade de experimentar. Vc me dava pequenas doses de vc, eu ficava feliz, pra daí então, me ignorar, fingir que ia sair da minha vida, só pra eu suplicar por mais uma dose. E eu joguei o seu jogo, exatamente do jeito que vc planejou.
Aos poucos vc foi me destruindo, me deixando fraca, sem reação, cada vez mais dependente dessa droga. Toda vez que eu tentava me livrar dessa situação tóxica, vc sempre tinha uma oferta promissora que me fazia ficar. Vc usou todas as táticas que conhecia para me tornar dependente. Mas o que vc não esperava, era que apesar de inocente, eu era forte e esperta demais pra deixar vc me vencer.
Suas lágrimas me faziam sentir culpada e te pedir desculpas por situações que vc mesmo havia criado. Suas histórias de um passado sofrido me faziam achar que eu nasci para te salvar. Suas mentiras me faziam acreditar que eu estava ali pra aguentar qualquer merda que vc colocasse nas minhas costas, porque afinal de contas, vc não nunca tinha culpa de nada. Sua personalidade comunicativa, extrovertida, simpática, seu ótimo senso de humor, tudo isso não passava de uma farsa.
Quando vc cansou de fingir, vc achou que eu não ia perceber. Quando vc chegava das suas viagens de trabalho, eu te abraçava com empolgação porque estava com saudades, vc não esboçava nenhum sentimento. Vc chegou a pedir que eu não fizesse carinho em vc. No sexo, vc não transava comigo, vc transava consigo mesmo, eu era apenas um acessório que ajudava vc a gozar. Vc não sentia absolutamente nenhuma afeição por mim, e eu vi dentro dos seus olhos.
Quando eu conquistava algo, vc não ficava feliz por mim, pelo contrário, vc me desmotivava a correr atrás dos meus sonhos. Quando eu chorava, vc não me acolhia, quando eu tinha crise de pânico, vc não me oferecia ajuda. Quando eu mais precisei, vc não me apoiou.
Vc não era mais comunicativo e extrovertido comigo, vc era misterioso. Vc não era mais simpático, vc era frio. Vc não era mais divertido e engraçado, vc era entediante. O seu verdadeiro “eu” estava surgindo.
No dia que eu fui embora, eu senti medo. Aquele dia eu finalmente enxerguei sua verdadeira face e eu pensei “Será que eu estou com medo do meu próprio marido?” e a resposta para essa pergunta foi “Sim, eu estou”. Mesmo viciada na sua droga, te amando incondicionalmente, querendo ficar, querendo consertar as coisas, mesmo querendo apagar tudo e começar de novo, EU FUI EMBORA, porque eu ignorei todos os sinais por 3 anos, mais aquele sentimento de medo naquele momento era forte demais para ser ignorado, e pela primeira vez eu resolvi respeitar a minhas próprias vontades.
Vc se gabava que tinha um emprego difícil e estressante e achava que eu tinha que tolerar seus comportamentos abusivos porque vc tinha uma desculpa para isso. Mas eu vou te contar o que foi realmente difícil e estressante. Estressante era estar ao seu lado, difícil foi sair desse ciclo tóxico e abusivo que vc me colocou.
Foram muitas sessões de terapia, muitas lágrimas no ombro dos amigos, eu tinha pesadelos que vc estava me perseguindo, eu fui diagnosticada pela terapeuta com Distúrbio de stress pós traumático. Tudo isso foi VOCÊ que me causou, e vc ainda tem a cara de pau de falar que era VOCÊ que sofria?
Hoje, um ano e meio depois, vc AINDA tenta chamar a minha atenção, durante todo esse tempo vc nunca me deixou em paz. Foram blocks e mais blocks, vc cria fakes para me vigiar, para saber o que estou fazendo da minha vida, vc continua usando táticas para tentar me manipular.
É impressionante como mesmo depois das mentiras, traições, humilhações, ameaças, toda manipulação, controle, depois de destruir a minha autoestima, críticas, a falta de apoio, falta de respeito, piadas sobre o meu corpo, dos xingamentos… vc ainda acha que depois de tudo isso, eu cogito em voltar para vc? Quão narciso da sua parte!
Vc continuou a sua vida, arrumou uma namorada, saiu falando pro mundo o quão vc era um excelente marido e eu era uma louca que não soube apreciar. Pois eu também continuei a minha vida, mas a diferença entre eu e vc é que eu não preciso mentir e manipular ninguém pra conseguir o que eu quero.
Hoje eu sou outra mulher, naquele dia em que fiz as minhas malas e sai pela aquela porta, eu comecei uma jornada pra dentro de mim mesma, eu deixei a mulher selvagem que habitava dentro de mim, sair, uivar, correr e ser livre. Eu comecei uma jornada de autoconhecimento, amor próprio e individualidade. Eu aprendi que eu não preciso e nunca precisei de um príncipe, aprendi que sou mais forte do que eu achei que era, comecei a acreditar no meu potencial e foi assim que sobrevivi.
Quanto à vc… ainda estou esperando vc assinar o divórcio.
Comentários