top of page

As crianças americanas são diferentes?

  • Foto do escritor: Mari Proença
    Mari Proença
  • 12 de nov. de 2020
  • 6 min de leitura

Um tempo atrás recebi uma pergunta pelo meu IG - inclusive, se vc não me segue já clica aqui e siga --- “Mari, as crianças daí são diferentes das do Brasil?”


Fiz alguns stories sobre o assunto e recebi muitas mensagens interessantes e resolvi abordar esse assunto.

Photo by Larm Rmah on Unsplash

Recentemente li uns comentários em um post sobre uma menina que ficou chateada porque levou um bolo simples para a festinha da escola e ninguém comeu. Eu fiquei horrorizada com o argumento dos adultos debochando da menina e da mãe, com o argumento que não passava de mimimi. Fiquei realmente triste ao ver que tantos adultos lidam com as emoções e comportamentos das crianças com desprezo.


Pra começar, já quero deixar avisado que não sou pedagoga e nem psicóloga. Sou formada em Letras (ou seja, tenho licença para dar aula de inglês e português do Ensino Fundamental para cima). Mas tenho experiência dando aula de inglês e português para crianças pequenas, fiz treinamentos e cursos durante a minha carreira de professora que me ajudaram a compreender mais sobre educação infantil, minha experiência cuidando de crianças também me levou a pesquisar bastante sobre o assunto.


Portanto, o que trago nesse texto são dados que eu de fato pesquisei junto com conhecimentos que adquiri durante as minhas experiências trabalhando com crianças. Disponibilizo alguns links das fontes ao longo do texto, mas muita coisa eu nem lembro onde li ou onde aprendi. Resumindo: não estou aqui pra falar verdades absolutas - nunca estive né?!!!


Mas vamos lá para as minhas percepções a respeito das crianças nos Estados Unidos.


Quando eu cheguei nos EUA para ser au pair e tive contato pela primeira vez com as crianças americanas, eu já logo percebi que elas eram diferentes. Percebi um pouco mais de independência, percebi que elas questionavam mais, que elas queriam escolher o que queriam e que elas eram "mais difíceis" do que as crianças que eu havia tido contato no Brasil.


Na época de au pair, eu tive uma dificuldade imensa em lidar com o menino do meio da família que eu trabalhava, ele não obedecia, não fazia que eu pedia, ele sempre respondia aos adultos com um tom rude e queria fazer as coisas do jeito dele. Eu costumava perder a paciência e várias vezes falei alto, peguei pelo braço e joguei no castigo, e até bater a porta do quarto pra fazer barulho pra ele me escutar eu fiz. Adiantava? Não! Na hora ele ficava com medo de mim e se encolhia no quarto, mas depois de algumas horas, estava ele lá de novo, enchendo as minhas paciências, provocando o irmão mais novo e fazendo as coisas "mal criadas" que ele sempre fazia.


Muitos anos se passaram depois dessa experiência, e depois de aprender muito sobre crianças, ao longo da minha vida profissional, eu comecei a ser mais tolerante e adotar outros aproximações com os pequenos.


Um ponto importante que acho legal começar esse texto é falando sobre a BIRRA. Quem que tem filhos ou já trabalhou com criança e presenciou aquela birra que tira a gente do sério - dá vontade de pegar na orelha e falar “demôniooooo" essas situações são bem estressantes para os adultos, mas pasmem, é muito mais estressante para a criança que está fazendo a birra.


Mas porque a criança faz birra?


"A birra está ligada diretamente ao gerenciamento das emoções, as birras geralmente começam depois dos 6 meses e podem durar até os 6 anos." Diz um artigo que li no G1.


Todos nós entendemos que nascemos e ao longo da infância a gente aprende como comer, como usar o banheiro, como se vestir sozinho ou amarrar os sapatos. E o mesmo acontece com o gerenciamento das emoções.


"Segundo os especialistas, o cérebro não nasce pronto e só é “finalizado” a partir dos 20 anos, quando termina o processo que melhora seu processamento e velocidade. Uma das últimas áreas a ser terminada é a frontal, que controla impulsos e molda as perspectivas de futuro." Diz essa outra reportagem do G1.



O cérebro de uma criança de 2-5 anos de idade --- considerem a margem de erro --- não tem o lado emocional desenvolvido ainda, e por isso, qualquer acontecimento pra ela é o fim do mundo. Se uma criança dessa idade está com fome e vc diz que ela terá que esperar mais 5 minutos para comer porque vc está cozinhando ainda, ela provavelmente começará chorar e possivelmente fazer uma birra daquelas de se jogar no chão - esse exemplo é real e aconteceu com a menininha de 2 anos que eu tomo conta. A criança simplesmente não consegue entender que ela não vai morrer de fome se esperar mais 5 minutos até o macarrão estar cozido para comer.


Um outro exemplo que um seguimano --- apelido carinhoso que eu dei para os meus seguidores do sexo masculino --- ele me mandou pelo IG uma mensagem contando a experiência dele... Ele foi au pair nos EUA como eu, e uma vez foi com a mãe e a criança que ele cuidava de 2 anos para um treino de futebol, chegando lá a criança pediu pra mãe a chupeta mas a mãe havia esquecido em casa, adivinha? O menino fez uma birra escandalosa, a reação da mãe foi de chocar o meu seguimano e a maioria das pessoas, ela o abraçou e disse calmamente "Filho, eu sei que vc está chateado porque vc não pode chupar a chupeta agora..." e foi acalmando o menino com toda a paciência do mundo.

Os pais americanos (na maioria dos casos) lidam com seus filhos dessa maneira. E --- pasmem de novo --- essa é a atitude mais adequada para lidar com uma criança.


Se até a gente que é adulto surtamos às vezes, porque esperamos que uma criança compreenda tudo e não tenha um surto emocional?


Tratar uma criança com calma, sem gritar, sem bater é sempre a melhor alternativa. Nem sempre vai funcionar, mas com essa atitude vc estará ensinando para a criança que os problemas da vida não se resolvem no surto da raiva, no grito, na violência e na opressão.


Se todos nós concordamos e defendemos que bater em mulher, por exemplo, é inadmissível, porque seria admissível bater em uma criança?


Daí vai ter o argumento daqueles mais conservadores "Ah porque na minha época, eu não fazia birra não, porque se eu fizesse, apanhava mesmo e hoje eu tô vivo". Uma criança que obedece um adulto que grita com ela ou bate, ela está obedecendo porque ela está com medo desse adulto, e não porque ela aprendeu alguma coisa válida. E a pior parte disso é que essa criança vai desenvolver um trauma que vai refletir na vida adulta.


Photo by Tadeusz Lakota on Unsplash

Dai entra um post que vi no Facebook recentemente que diz o seguinte:


"Apanhou e não morreu, mas precisa se curar na terapia..." e mais uma porção de problemas que carrega na vida adulta por conta de traumas de infância.


E tem esse outro meme aqui que eu achei incrível e que diz o seguinte "Querida, quando vc crescer, quero que seja assertiva, independente e obstinada. Mas enquanto vc é criança, quero que seja passiva, maleável e obediente"



Nos Estados Unidos a educação que as crianças recebem é mais focada em um pensamento crítico, elas são ensinadas a questionarem o mundo, fazerem as suas próprias escolhas e serem independentes.


No Brasil a nossa educação é o contrário, aprendemos a sermos obedientes, não questionar, ficar calado e fazer o que os outros pedem sem termos escolhas.


Comparando esses dois modelos de educação, em qual país vc acha que terão adultos mais assertivos, críticos, bem centrados, formadores de opinião?


Daí, de novo, virão os argumentos "Ah mas, não pode deixar a criança fazer o que quer".


Sim, eu concordo plenamente.


Educar com paciência, calma, amor e carinho, não significa deixar a criança fazer o que quer. É preciso adotar outros tipos de educação que não seja a base do grito, da grosseria e do chinelo.


É DIFÍCIL? SIM! e muito. Educar, ensinar e orientar não é uma tarefa simples. É muito difícil não perder a paciência diante de uma criança que não obedece, não faz o que vc pede, que faz "malcriação" ---- É AÍ que eu vou dizer algo que vai doer, EVITE TER FILHOS SE VC NÃO TERÁ A PACIÊNCIA DE EDUCAR DA MANEIRA ADEQUADA.


Não estou aqui para apontar o dedo e pedir que pais sejam perfeitos, eu não sou mãe, mas eu entendo bastante da parte educativa de uma criança e eu sei que é extremamente difícil lidar ---- eu fico bufando de raiva muitas vezes com o menino que eu cuido (que tem uma personalidade bem forte).


Se vc é pai/mãe ou lida com crianças, não se cobre a perfeição, mas dê o seu melhor para que esses pequenos cresçam e virem adultos melhores para o nosso mundo.


Se vc curtiu esse texto, deixe seu like, logue com a sua conta do Facebook e comente.

 
 
 

Comments


© 2023 por NÔMADE NA ESTRADA. Orgulhosamente criado com Wix.com

  • YouTube - Black Circle
  • Pinterest - Black Circle
  • b-facebook
  • Instagram Black Round
bottom of page